Entregue um smartphone na mão de uma criança e em poucos minutos ela
terá descoberto a galeria de fotos e grande parte dos aplicativos disponíveis.
O mesmo vale para brinquedos eletrônicos em geral: diante de um laptop
infantil, por exemplo, os pequenos não precisam de manual de instruções -
simplesmente apertam os botões e encontram suas atividades. A presença da
tecnologia na vida das crianças é cada vez mais natural. Isso se deve,
principalmente, à realidade dos adultos que as rodeiam.
Alexandre
Carvalho/ Fotoarena
A pequena Pietra,
de 4 anos, divide a atenção entre seus bonecos e o tablet da mãe
"Desde bebês, as crianças percebem três símbolos do poder adulto: a
chave, o telefone e o controle remoto. São eles que desencadeiam a vontade de
controlar as situações - como abrir portas ou escolher o canal da TV.
Naturalmente surge o interesse pelos computadores também. Os conceitos por trás
desses objetos e de seus usos, ou seja, a valorização do poder decidir, da
velocidade e da multitarefa, que são fatores importantes hoje em dia, são
adaptados ao universo infantil para o surgimento dos brinquedos eletrônicos que
conhecemos. Assim, os brinquedos eletrônicos se tornaram os objetos de valor do
nosso tempo", explica a pedagoga Tânia Fortuna, coordenadora geral do
programa de extensão universitária Quem quer brincar? ,
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
É a partir desta linha de pensamento que muitas novidades do mercado são
criadas. Kathleen Alfano, especialista em primeira infância da Mattel e
diretora do Playlab de Fisher-Price, revela que a popularização dos tablets
forçou a empresa a ser criativa. “Sempre nos baseamos em produtos do mundo
adulto e os transformamos em brinquedos. Conseguimos fazer um tablet seguro e
adequado, por exemplo, com bons aplicativos para o desenvolvimento
das crianças.”
Sem
comparações
Mesmo com a tecnologia tão presente no dia a dia das famílias, muitas
pessoas ainda se mostram saudosas das brincadeiras mais antigas.
Entretanto, frases taxativas como “brinquedos bons eram os do meu tempo”
estão sendo cada vez mais questionadas. Segundo especialistas, há espaço tanto
para os brinquedos eletrônicos quanto para os tradicionais e não é possível uma
comparação direta entre eles.
“Nesse caso, não existe melhor ou pior. Tudo depende da criança e da
maneira como ela interage com o objeto lúdico. O ideal é aquele que entretenha
e crie situações que propiciem o deslocamento espaço-temporal por meio da
imaginação, o que independe do formato do brinquedo”, defende a doutora em
educação Maria do Carmo Kobayashi, professora da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), em Bauru. Tânia concorda e acrescenta: “o brinquedo que vem todo
pronto ou faz tudo sozinho não é bom, e pode ser tanto uma cama de boneca com
as partes coladas quanto um robô que só precisa ser ligado.”
Foto:Alexandre Carvalho/Fotoarena
Mesmo sendo fã de
tablet e laptop, Pietra não abre mão de brincar com alguns itens mais
tradicionais como seu jogo de princesas
Apetrechos
modernos e ursinhos
Na casa de Ana Paula Santamaria Zeizer, as bonecas e os bichinhos de
pelúcia de Pietra, de 4 anos, dividem espaço com apetrechos modernos. A
publicitária paulistana conta que a filha gosta de todo tipo de brinquedo e que
cada um tem seu momento de atenção. “Ela é vidrada em ursinhos, damos nomes
para eles, inventamos diálogos. Mas também quer brincar com o laptop ou com meu
tablet à noite. Um não anula o outro”, diz. Para a mãe, é natural que a pequena
tenha interesses múltiplos. “Ela vê meu marido no computador, me vê com o
smartphone, como não vai querer também? Não vejo problemas porque existem
aplicativos educativos. Apenas faço questão de que sempre um de nós esteja
presente para orientar”, afirma.
Essa interação dos pais é, para as pedagogas, essencial. “O papel do
adulto é conversar com as crianças sobre o uso de todos os tipos de brinquedos.
Cabe a ele se certificar que o brinquedo está sendo usado corretamente. Além
disso, também deve determinar o tempo de cada atividade”, esclarece
Tânia. “O responsável deve filtrar o que a criança pode acessar,
especialmente em casos de jogos com conteúdos não eticamente viáveis para o
cérebro infantil”, complementa Maria do Carmo.
Nem sempre os pais acertam como dosar os brinquedos logo de cara. Por
causa da profissão, a analista de sistemas Aline de Assis pensava que deveria
deixar Breno, de 9 anos, usar computador e videogame livremente. “Até que um
dia, dois anos atrás, cheguei em casa e vi meu filho jogando um game de guerra
e falando palavrões diante da televisão. Fiquei em choque. Expliquei que
violência é uma coisa ruim e que ficava magoada por ouvi-lo usando aquela
linguagem. Ele me contou que havia trocado outro brinquedo pelo game, com um
colega da escola”, lembra. A curitibana se sentiu péssima, mas superou o trauma
e desde então monitora as brincadeiras do menino. “É minha obrigação como mãe.
Os brinquedos entretêm, mas quem educa sou eu”, finaliza.
Acerte
na compra
Para quem deseja acertar na compra do brinquedo, mas não sabe escolher
corretamente, uma ótima dica é prestar atenção nas indicações contidas nas
caixas. “A questão da segurança é muito importante. Verifique se tem selo do
Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) ou da Abrinq
(Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos). Também procure notar se
o brinquedo solta tinta ou possui peças que possam ser engolidas ou entrem em
algum orifício do corpo da criança”, orienta Maria do Carmo.
Além dos aspectos técnicos, é bom pensar na criança em questão, como
alerta Tânia: “as indicações de idade nem sempre se aplicam ao presenteado. É
essencial levar em consideração as capacidades cognitivas de cada um para que o
brinquedo agrade e tenha sentido”.
Fonte: iG São Paulo | 27/11/2012 08:53
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