FERNANDA CALGARO-Para o UOL Tecnologia em 17/10/2013, de
Londres
O anonimato, o acesso fácil às tecnologias e o impacto na
internet de um vídeo ou uma foto tornam o ciberbullying ainda mais grave que o
bullying "tradicional", segundo a avaliação de especialistas. E para
que as vítimas, os pais e os professores saibam como lidar com o problema – ao
menos num primeiro momento –, o UOL Tecnologia preparou algumas dicas (veja no final desta
reportagem).
"O ciberbullying permite que o agressor tenha tempo de
planejar, refletir, criar e sofisticar a ‘arma’ que irá disparar. No verbal ‘in
loco’, o sujeito não dispõe de tanto tempo para elaborar a estratégia
agressiva", explica a psicanalista Vera Zimmerman, doutora em psicologia
clínica e coordenadora do Cria (Centro de Referência da Infância e
Adolescente), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). De acordo com
ela, o ciberbullying aumenta a sensação de impotência e de injustiça, assim
como a incapacidade de o agredido se defender.
Richard Piggin, um dos diretores da ONG britânica Beatbullying, referência no assunto, concorda.
"Ao contrário do bullying, em que o adolescente chega em casa e se sente
seguro, no ambiente virtual a vítima pode ser perseguida 24 horas por dia,
recebendo mensagens no celular ou no seu perfil numa rede social, por exemplo."
As razões que levam alguém a praticar o ciberbullying
variam, mas normalmente estão relacionadas a uma insegurança do agressor, que
pretende ser aceito num grupo ou ganhar mais popularidade. "Há casos
também de adolescentes que sofrem com o bullying e, para descontar, fazem as
suas próprias vítimas", avalia Piggin.
A pedagoga e pesquisadora Cléo Fante, autora do livro
"Fenômeno Bullying", ressalta ainda que falta, aos adolescentes,
orientação sobre o uso ético e responsável das tecnologias e também sobre as
implicações legais. Segundo ela, faltam ainda canais de comunicação para que as
vítimas possam denunciar e buscar auxílio, sem medo de represálias.
Escola
Apesar de a escola ser o principal palco de origem do
ciberbullying ou bullying, uma pesquisa conduzida em 2009 pela ONG Plan Brasil
nas cincos regiões do país revelou o despreparo das instituições de ensino para
lidar com o problema. O motivo? As escolas têm tendência a considerar que isso
não é da sua alçada. O estudo também apontou que 16,8% dos estudantes são
vítimas de ciberbullying, 17,7% são praticantes e apenas 3,5% são vítimas e
praticantes ao mesmo tempo.
Para Cléo Fante, está na hora de as escolas assumirem também
sua parte de responsabilidade. Ela cita como exemplo um programa piloto que
está sendo implantado, sob a sua supervisão, em oito escolas públicas do
Maranhão. O objetivo é treinar grupos de alunos para orientar colegas. Segundo
ela, o projeto também pode incluir a adoção de um canal online para orientação
das vítimas, nos moldes do
CyberMentors (mentores online) no Reino Unido.
Embora concorde que a escola deva dar a sua contribuição, a
pesquisadora faz uma ressalva e afirma que, para terem sucesso, os projetos
dependem do envolvimento das famílias e dos governos. "As medidas mais
eficazes são aquelas discutidas, planejadas, aplicadas e avaliadas conjuntamente."
Veja dicas:
Para a vítima
- Conte para alguém em quem confie. Pode ser os seus pais,
um professor ou seu melhor amigo. Essas pessoas vão ajudá-lo a resgatar a
autoestima e buscarão ajuda profissional se for preciso. O mais importante é
não guardar a dor para si
- Guarde o e-mail ou a mensagem com insultos ou ameaças para
servir de prova contra o agressor.
Para os pais
- Para saber se seu filho é vítima de ciberbullying, fique
atento às mudanças de comportamento, como ansiedade e nervosismo excessivos,
vontade de ficar sozinho e queda no rendimento escolar
- Acompanhe de perto o que seu filho faz na internet e
monitore as redes sociais. Vale até criar um perfil e pedir para ser adicionado
como amigo. O adolescente pode considerar invasão de privacidade, mas, segundo
especialistas, "é melhor invadir do que deixar o filho abandonado à
própria sorte"
- Deixe claro quais são as suas preocupações e mostre-se
disponível para qualquer tipo de ajuda.
- Se constatar o ciberbullying, dependendo da gravidade,
salve uma cópia do conteúdo e procure uma delegacia de polícia. Peça ao
provedor de internet que o conteúdo seja tirado do ar
- Em casos mais graves, quando a exposição ao ciberbullying
causar sérios danos, como constrangimento, humilhação ou ameaça à sua
integridade física, moral ou psicológica, mudar de escola ou vizinhança é uma
opção
- Para saber se o seu filho é o agressor, observe mudanças
comportamentais repentinas, se há irritabilidade frequente e atitudes
prepotentes ou dominadoras
- Caso seu filho seja o agressor, oriente-o e exija que
interrompa a agressão. Se for preciso, procure auxílio da escola ou de um
psicólogo
Para o professor
- Preste atenção em mudanças no grupo, especialmente em
situações de agressividade
- Mobilize os alunos e promova discussões sobre o tema. Vale
propor atividades de pesquisa ou redações
- Se houver algum caso, seja sigiloso e cauteloso para não
rotular a vítima. Encaminhe o problema à direção escolar, que deverá convocar
os pais dos envolvidos
- Em seu regimento, a direção escolar pode prever punições,
como suspensão
- Em relação ao agressor, as medidas também variam conforme
a gravidade: oriente o estudante e o advirta das consequências para si e para a
vítima (sem expô-la a situações constrangedoras). Exija que o agressor pare com
as ações abusivas
- Para prevenir, a escola deve criar canais de denúncia e
campanhas educativas
Fontes:
Cléo Fante (pedagoga e pesquisadora); Vera Zimmerman (doutora em psicologia
clínica e coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescente, da
Unifesp); e Richard Piggin (diretor da ONG britânica Beatbullying)
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